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Curuçá, PA, Brazil
Sou professor graduado em Letras pela UNAMA(Universidade da Amazônia),PA.Tenho dedicado uma boa parte da minha vida ao magistério e sou feliz por isso.Sou dedicado ao meu trabalho e gosto do que faço.Não sou um sabe-tudo.Gosto de aprender com os outros.Afinal,ser professor é ser um eterno aprendiz.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Assim eu queria que fosse o meu Natal

Estava perto o final do ano, e a grande festa de Natal estava chegando. Apenas um dia nos separava desse momento tão festivo. Já se podiam ver as lâmpadas coloridas enfeitando as árvores, as janelas e portas das casas dessa pequena e tranquila cidade no interior do Pará.
Tudo que se via e ouvia fazia parte do clima de Natal. Quem podia pintava sua casa. Outras mandavam fazer roupas novas para esse dia. Os que tinham mais condição financeira compravam um peru para o almoço. Outros faziam bolo, arroz-galinha, vatapá, maniçoba e outras comidas deliciosas para comemorarem com a família e amigos na noite do dia vinte e quatro. Mas havia aqueles que não tinham nada para esse dia.
Era o final do ano de 1987. Na época, eu ganhava pouco como funcionário estadual. Não podia fazer uma grande festa natalina. Lembro bem que pude comprar apenas um quilo de carne para o almoço do dia 25. Enquanto caminhava para casa, contente, carregando a carne, vi uma senhora de idade, morena, cabelos pintados pelo tempo, debruçada na janela de sua casa, acenando para mim. Então me dirigi até onde ela estava. Ela me olhava com um olhar triste, mas com palavras meigas me disse: “Meu filho, hoje é Natal, e eu não ganhei nenhum presente! Não tenho nem o que comer.” Confesso que meu coração se partiu nesse momento. Pelo que pude perceber, além de não ter nada para comer, ela morava só. Coisa triste é viver sozinho, pensei, e principalmente estar só ou longe da família numa data como esta.
Se pararmos para observar, veremos que pelo mundo afora ou até mesmo perto de cada um de nós, há milhares de pessoas, que numa data dessas, não têm um lugar para se abrigarem do frio, nem mesmo alguma migalha para colocarem na boca. São pessoas que, devido à mísera vida que levam, parecem mais uns bichos do que seres humanos. São pessoas para quem as portas não se abriram. Pessoas para quem a felicidade não sorriu. São seres que na situação em que se encontram, lançados ao chão, malcheirosos e maltrapilhos, não parecem ser a imagem divina. São pessoas (nossos semelhantes) que vêm, muitas vezes de uma grande desilusão amorosa. Que amaram sem ser amados. Que nunca tiveram atenção, carinho, só decepção. Pessoas que no íntimo clamam por amor, compreensão, justiça e perdão.
Então eu disse: “Não seja por isso. A senhora vai ter o que almoçar.” Ela me arrumou uma faca, e eu cortei no meio a carne. “Aqui está o seu almoço.” Ela estendeu a mão, pegou o pedaço de carne e deu um sorriso feliz. Confesso uma coisa: eu nunca havia visto um sorriso como esse. E me agradeceu.
Aquele sorriso marcou a minha vida. E também me fez entender que não é preciso ter muito para fazer alguém sorrir. Mesmo o pouco pode ser multiplicado quando é feito com amor. E eu sei que muito pode ser feito neste Natal se o egoísmo não for tão grande. Pense um pouco em Jesus, que sendo rico se fez pobre, a fim de que você e eu tivéssemos a riqueza de Sua infinita Graça.
Naquele dia, eu fui para casa com apenas meio quilo de carne, mas pensando: “Assim eu queria que fosse o meu Natal: feliz como aquele sorriso!

Pinheiro, Carlos Castro. Minhas crônicas, Curuçá, 10/12/2011.